Minha companheira aparentou ter gostado bastante do vestido que escolhi. Ainda bem. Ela observou-o completamente, com um olhar diferente do normal. Tive a impressão de tê-la ouvido sussurrar algo como "Não visto vestidos como esses...", ou melhor, que fazia um tempo desde que ela não vestia. Estranho, não sabia que ela já havia trajado algo assim antes de nos conhecermos. Para ser sincera, eu não sei muito a respeito da Alyssa daquela época, não que eu me importe, na verdade. É claro que eu me preocupo com ela, mas não ligo de saber ou não sobre seu passado. Além disso, é evidente que não sou o tipo de pessoa que tem interesse no que uma pessoa fez ou deixou de fazer em dias distantes.
Ela vestiu a peça, e então foi até o banheiro. Voltou logo em seguida, arrumada. Devo admitir, Alyssa estava realmente bonita. Os dois quase-homens do nosso grupo talvez ficassem inquietos diante dela, quem sabe. Ainda que, por algum motivo, sinto que algo assim viria mais do orelhudo do que do albino. Bem, tanto faz.
Dirigi-me até o banheiro, onde despi-me para finalmente tomar meu merecido banho, deixando minhas roupas largadas no chão. Porém, no momento em que a água entrou em contato com minha ferida, senti uma terrível ardência. Aquilo me pegou desprevenida, não achei que seria tão agonizante. Acabei por deixar escapar um gemido de dor, mas fui capaz de conter os que viriam em seguida. Era de meu conhecimento que higienizar o machucado seria o mais correto, e embora isso parecesse bem simples e eu já tenha enfrentado situações semelhantes, esse com certeza foi o pior dos meus cortes nesses três anos.
Finalizando o banho, passei alguns dos meus perfumes, cremes, e o que mais tivesse lá. Queria esquecer completamente a sensação de ter ficado repleta de sangue, pois minha aversão a isso era enorme. Não chega a ser hemofobia, mas detesto sangue desde aquele dia. Ter visto aquela quantidade imensa de rubro saindo da minha mãe foi o suficiente para uma vida inteira, portanto, eu evitaria situações assim o máximo possível. Porém, talvez eu tivesse exagerado um pouco, pois aquele cheiro híbrido de flores e frutas estava bastante notável. Não que eu me incomodasse, afinal, era um ótimo aroma, mas não queria que os outros reparassem muito nisso. Além de tudo, me lembrava um pouco dos tempos como princesa, com perfumes e loções luxuosas.
Terminando o que tinha para fazer, me enrolei em minha toalha e retornei ao quarto. Alyssa estava tirando uma soneca, carregando uma expressão tranquila e serena no rosto. Era de se esperar, depois de ter passado tanto tempo sem dormir. Abri o armário, e em seguida selecionei as peças que eu usaria: um belo vestido negro de mangas compridas e gola alta, com uma abertura em "V" (de cabeça para baixo) na parte da saia, exibindo um vestido branco por baixo; meia-calça preta e botas curtas. Joguei a toalha em minha cama, e me vesti rapidamente. Retornei ao banheiro, onde sequei e arrumei devidamente meus longos cabelos loiros, deixando-os soltos, mas com um laço preto atrás ornamentando.
Finalizando isto, sentei em minha cama, relaxando um pouco, ainda que sem deitar-me. Parei um pouco para refletir sobre o dia de hoje, e o que faria a seguir. As coisas vinham se complicando cada vez mais, embora eu tivesse uma sincera esperança de que tudo apenas se ajeitaria com o tempo. Provavelmente os outros de nosso grupo chegariam em breve, com tudo resolvido. Sim, eu não deveria estar me preocupando com algo assim. Por mais difícil que fosse para mim confiar nos outros e só esperar que dessem um jeito na situação, eu deveria me conter. Afinal, nada de muito ruim poderia realmente acontecer, certo?