"Um cômodo de madeira vazio, completamente sem móveis, janelas, ou alguma decoração. Apenas uma garota loira, de baixa estatura, com brilhantes orbes azuis. Olhos estes que derramavam lágrimas, em meio ao silêncio, encarando a única porta que existia. Caminhou até ela, abriu-a, e deparou-se com uma cena que a fez arrepiar. Uma bela mulher, também de cabelos longos e loiros, estava de pé sozinha, e tinha uma face expressando dor. Pelos seus lábios entreabertos, escorria sangue. Logo, um buraco abria-se na barriga da mulher, e mais do líquido vermelho espalhava-se por ela e o chão ao redor. Tentava dizer alguma coisa, mas a pequena — que apenas observava — não conseguia ouvir. A poça de sangue já alcançara os pés da menina, que estava completamente paralisada, incrédula. Finalmente conseguiu ouvir uma palavra do que a mulher ensanguentada dizia: "Lyanna..."
Abri minhas pálpebras lentamente, e embora ainda estivesse sonolenta, fui levantando da cama, ficando sentada nela. Cocei meus olhos, e bocejei. Olhando pela janela, observei que ainda era muito cedo; deveria ser umas cinco horas da manhã. Alyssa não estava no quarto, pois provavelmente estava trabalhando. Como eu havia tido um pesadelo desse tipo, mais uma vez? Senti uma lágrima ameaçando escorrer de meu olho, mas apenas esfreguei-o novamente.
Caminhei preguiçosamente até o banheiro, para fazer minha higiene. Em seguida, penteei meus longos cabelos loiros, e prendi-os em um coque baixo um pouco bagunçado. Haviam duas mechas na frente, uma de cada lado, indo abaixo de meus ombros, e a franja de lado. Fui para o quarto, calcei um par de sapatilhas brancas com um pequeno salto. Peguei luvas pretas compridas, que deixam meus dedos descobertos; grande parte de seu comprimento estava tampado pela manga do vestido branco, com apenas a parte da mão sendo visível. Também peguei o cachecol preto que simboliza o grupo do qual faço parte, mas desta vez coloquei-o no pescoço normalmente, ao invés da cintura. — Já que iríamos em direção ao interior do país, onde é mais gelado.
Andei até a sala, apenas para encontrar os dois preguiçosos ainda dormindo. De início, até achei um pouco cômico como deitaram um do lado do outro, mas como não estava de muito bom humor, trataria de acordá-los. Reparei que Nightingale estava sem o capuz tampando o rosto, e minhas suspeitas estavam certas; realmente era uma mulher. Sem mais delongas, puxei o manto que ambos usavam para se cobrirem, e deixei um pouco longe. Tremeram com o frio, é claro.
— Levantem de uma vez, antes que seus traseiros fiquem congelados. — Pronunciei, e andei em direção à cozinha, para pegar ao menos uma fruta para comer no caminho.